Varejo e Serviços no Brasil: Dados Alternativos Indicam uma Recuperação Heterogênea

Os setores de varejo e serviços desempenham um papel essencial na economia brasileira, respondendo juntas por aproximadamente 70% do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dado que seu desempenho é muito sensível às condições econômicas do país, como o mercado de trabalho, a inflação e o crédito bancário, esses setores foram fortemente impactados pela crise econômica causada pela pandemia da Covid-19.

Medidas de estímulo fiscal ajudaram a mitigar os efeitos adversos das medidas de distanciamento social e o crescimento do setor varejista voltou ao território positivo já em julho de 2020, em uma base anual, refletindo o aumento das compras online e a reabertura das lojas após as primeiras quarentenas. O setor de serviços, no entanto, não conseguiu se recuperar tão rapidamente.

Devido à queda dos salários reais em meio ao aumento da inflação e ao fim do programa de auxílio emergencial, a perda de poder aquisitivo ainda dificulta a recuperação plena da economia brasileira. Os salários reais no setor privado caíram 3,44% no primeiro trimestre de 2022, enquanto a taxa de inflação atingiu 12,1% em abril de 2022, o maior valor em duas décadas.

Apesar disso, o volume de vendas no varejo cresceu 4,5% ano a ano em abril, enquanto o volume de serviços aumentou 9,4% também na base anual, refletindo a recuperação das atividades empresariais presenciais.

No entanto, alguns dados alternativos locais – recentemente adicionados à plataforma CDMNext – podem revelar mais detalhes sobre o desempenho de ambos os setores. Por exemplo, as vendas mensais do varejo real com os cartões de crédito e débito Cielo subiram 7,1% em maio de 2022. Além disso, o consumo de supermercado pago com cartões de refeição Alelo recuou 15,32% em março de 2022, enquanto o consumo de restaurantes pagos com o mesmo cartão aumentou 15,19% no terceiro mês de 2022.

Os indicadores da situação financeira das famílias são outra ferramenta útil para monitorar o desempenho dos setores varejista e de serviços. O percentual de domicílios com contas em atraso – indicador compilado pela associação do setor varejista CNC – ficou em torno de 29% em maio de 2022, o maior nível desde janeiro de 2010.

Consequentemente, com a adoção de uma política monetária contracionista pelo Banco Central para controlar o processo inflacionário, há o risco de que o endividamento das famílias possa se tornar um importante fator de contenção para a recuperação econômica do país.

Essa visão é compartilhada pelo CEIC Leading Indicator, que sugere que o crescimento econômico atual está abaixo de sua tendência de longo prazo. De acordo com o Índice de Variações de Mobilidade do Google, a mobilidade para os locais de trabalho no Brasil foi 34,32% maior em maio de 2022 do que no período pré-pandemia entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro de 2020 – período de base do indicador.

Considerando que janeiro costuma ser um mês de férias para os brasileiros, espera-se que mais pessoas vão aos seus locais de trabalho em maio do que em janeiro, o que pode explicar parcialmente essa variação. Além disso, as visitas a supermercados e farmácias saltaram 48,71% em maio de 2022 em relação ao período pré-pandemia.

Por outro lado, a mobilidade para o varejo e as atividades recreativas ainda não se recuperou para níveis pré-pandêmicos. Em todos os meses de 2022, as visitas a esses locais foram menores do que antes da pandemia, variando de -9,39% em janeiro para -1% em maio. A queda da mobilidade para o varejo e as atividades recreativas também podem ser explicadas pelo aumento da taxa de inflação, como veremos mais adiante, bem como pelo fim do programa de transferência de renda.

Essa análise foi feita com dados da plataforma CEIC Data Brasil Premium.Para fazer o download do estudo completo, clique aqui

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