Novos Dados da FGV Fornecem uma Análise Abrangente da Inflação no Brasil

inflaçao Brasil
Adriano Morais, Research Economist
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O Brasil viu um declínio substancial na taxa de inflação entre abril e agosto de 2020, quando muitas atividades comerciais foram paralisadas devido à pandemia do COVID-19. Isso permitiu ao banco central expandir o programa de alívio monetário iniciado um ano antes. O banco central cortou a taxa básica de juros SELIC gradualmente para um piso histórico de 2% em agosto de 2020. Para evitar uma queda significativa na renda das famílias, causada por um mercado de trabalho em situação crítica, o governo federal deixou de lado seu programa de austeridade fiscal e aumentou despesas em mais de R$ 524 bilhões (cerca de 7% do PIB) desde o início da pandemia até 31 de dezembro de 2020.

A maior parte (56%) foi gasta no auxílio emergencial - um programa de transferência de renda para ajudar os trabalhadores desempregados, informais e autônomos afetados pela a pandemia. Inicialmente, o programa previa pagamentos mensais de R$ 600 em abril, maio e junho, mas o governo estendeu esses pagamentos até agosto, e mais adiante, prosseguiu com pagamentos mensais de R$ 300 entre setembro e dezembro.

O auxílio emergencial permitiu que muitas famílias de baixa renda recuperassem seu poder de compra,levando a um aumento significativo da demanda interna do país. O setor de varejo tem crescido a uma taxa anualizada de mais de 5% a cada mês desde julho. No acumulado de de janeiro a outubro de 2020, as vendas no varejo cresceram 0,9% ano a ano.

Do lado da oferta, muitos produtores vêm operando com estoques mais baixos, já que o fechamento de fábricas durante o bloqueio entre março e maio teve um impacto negativo na produção industrial.

Além disso, a segunda metade do ano foi um período de entressafra para alguns segmentos-chave da agricultura. Os custos do setor agrícola aumentaram, assim como as exportações, sustentadas por uma taxa de câmbio favorável. Conseqüentemente, o Brasil enfrenta uma contração da oferta e um aumento da demanda.

O real brasileiro desvalorizou ao longo do primeiro semestre de 2020 e permaneceu cotado acima de um nível sem precedentes de R$/US$ 4,90 durante o segundo semestre do ano. Alguns setores com insumos cotados em dólares tiveram aumento significativo de custos. As empresas do setor agropecuário optaram pelo aumento das exportações como estratégia para aumentar as receitas em dólares e compensar o aumento dos custos, o que restringiu ainda mais a oferta de alimentos no país.

Portanto, as medidas monetárias e fiscais para combater a crise da COVID que impulsionaram o varejo, e o choque de oferta influenciado pela depreciação da taxa de câmbio, levaram a uma pressão inflacionária tanto do lado do consumidor quanto do produtor.

Para monitorar o processo inflacionário crescente, utilizamos os dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) que estão disponíveis na base CEIC Brasil Premium – e que contém as seguintes séries sobre inflação   

  • O Índice de Preços ao Produtor IPA-M, que monitora os preços dos produtos agrícolas e industriais nas transações corporativas, ou seja, nas fases anteriores ao consumo das famílias.
  • O Índice de Preços ao Consumidor IPC-BR-M, que calcula as variações médias dos preços de bens e serviços demandados por famílias com renda de até 33 salários mínimos em sete grandes cidades do país.

  • O Índice Nacional de Custo da Construção INCC-M, que monitora os custos de construção residencial

  • O Índice Geral de Preços de Mercado IGP-M, um indicador geral dos movimentos de preços que considera as diferentes etapas do processo de produção. É uma média ponderada do IPA-M, do IPC-BR-M e do INCC-M.

  • Dados da FGV vs dados oficiais de inflação

    O IGP-M é amplamente utilizado no país como referência para reajustar os preços dos aluguéis e da energia, em frequencia anual, de acordo com a inflação dos produtores e das famílias. Assim, as variações do IGP-M impactam a inflação oficial ao consumidor em períodos futuros, uma vez que aluguéis e energia têm participação significativa no índice oficial de preços ao consumidor, o IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Além disso, a composição dos índices da FGV permite o acompanhamento detalhado da inflação no país e seus impactos nos custos de diversos setores e produtos.

    Em dezembro, a FGV reportou fortes pressões inflacionárias em diversos estágios da atividade econômica. O índice de preços ao produtor IPA-M aumentou a uma taxa anualizada de 31,6% no mês, refletindo a alta nos preços agrícolas e, em menor medida, os preços de  manufaturados. Paralelamente, o Índice Oficial de Preços ao Consumidor (IPCA) cresceu 4,3% de maneira anualizada em novembro, superando a meta de inflação de 4% para 2020. A perspectiva de reajustes de preços no primeiro semestre de 2021, com base nos índices de inflação atuais, pode fazer com que a inflação acelere ainda mais e provavelmente levará o Banco Central a aumentar a taxa SELIC ao longo de 2021.

     

    fgv inflação

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Ter, 2021-01-19 15:03 Novos Dados da FGV Fornecem uma Análise Abrangente da Inflação no Brasil